Behind the Scenes com Dinis Amaral

Conversamos um pouco com o treinador da AD Galomar e campeão da Proliga

Dinis Amaral, nascido em Ovar há 26 anos, fez história nesta passada temporada ao ter garantido a promoção para a primeira liga, na sua estreia ao serviço como treinador principal e pela primeira vez na história da AD Galomar.

Antes disto, jogou na sua equipa natal, a Ovarense, mas percebeu que o seu futuro era sim num outro aspeto do jogo, chegando a ser treinador-adjunto do plantel principal do seu primeiro clube em 2019. Em 2021, após ter escapado à relegação à Proliga com a Ovarense, passou a integrar a equipa técnica do Vitória SC, onde esteve apenas na temporada passada. Finalmente, mudou-se para a ilha da Madeira, alcançando finalmente o papel de treinador principal de uma equipa sénior, acabando por vencer o título da Proliga e, como previamente mencionado, a promoção para a competição mais importante do país.

Hoopers (H): Sendo de Ovar, um dos hotspots do basquetebol nacional, qual foi o teu contacto inicial com a modalidade?

Dinis Amaral (DA): A minha mãe trabalhava como administrativa no clube, o meu pai fazia o relato de todos os jogos da Ovarense. Desde cedo que troquei o infantário pelo pavilhão.

H: Como é que foi para ti a transição inicial de parar de jogar para começar a ser treinador-adjunto da equipa principal da Ovarense?

DA: Percebi que seria difícil, para mim, viver do basquetebol como jogador. Iniciei cedo a minha carreira oficial de treinador, nos escalões da Ovarense, com um trajeto ascendente até à equipa sénior masculina. Este começo de carreira de treinador fez-me acreditar que seria possível viver do basket nesta posição. Desde então a aposta tem sido clara e total.

H: Como surgiu a oportunidade de assumir uma equipa finalmente como treinador principal?

DA: No final do último jogo da época 21/22 com o Vitória SC, fui contactado pelo presidente da AD Galomar para assumir a posição de treinador principal da equipa. Estava satisfeito e confortável no Vitória, mas achei o projeto Galomar ambicioso pessoal e coletivamente, apesar do risco.

H: O que sentes em relação a teres sido o treinador mais novo da Proliga?

DA: Quando és profissional, na postura e não no ordenado, a idade deixa de ser fator decisivo.

H: Alguma diferença notável entre o estilo de funcionamento de uma equipa pequena como a AD Galomar para um clube relativamente grande noutras frentes como o Vitória ou a Ovarense?

DA: A Galomar teve um crescimento desportivo exponencial num curto espaço de tempo. Se não se estiver no topo é difícil saber o que é preciso para lá estar, mas a melhor maneira de o saber é efetivamente estar lá. E a Galomar estará.

H: De que forma é vivido o basquetebol na ilha da Madeira que achas diferente da forma que se vive no continente?

DA: Mais do que o “bairrismo” e “clubismo” a que estou habituado aqui temos o “regionalismo”.

O basquetebol na Madeira tem história e muitos jogadores e treinadores de renome, cresceram ou passaram por aqui. Há muita ambição de fazer mais e de estar entre os melhores.

H: Sendo uma cultura diferente do que tinhas experienciado, têm algum ritual interessante que queiras partilhar (pré-jogo, pós-jogo, etc.)?

DA: Poncha e bolo do caco. Sempre que possível.

H: Em 3 anos como adjunto, passaste por 4 treinadores diferentes. Quais são algumas coisas que retiraste desse tempo que utilizas agora como treinador principal?

DA: Entre muitas, muitas outras coisas que aprendi com todos, deixo aqui uma ideia sobre cada um:

Nuno Manarte – definimos o ritmo de jogo pelo set-play (ou ausência dele) que escolhemos em cada ataque, bem como pela opção defensiva em cada momento – posses de bola curtas ou longas.

Pedro Nuno – o ritmo de jogo elevado vai implicar mais erros e piores decisões também na equipa que o impõe. Treinar nesse ritmo prepara-te melhor para o caos que vais encontrar no jogo.

Carlos Fechas – Se alguma ação está a resultar, devemos forçá-la até que o adversário encontre resposta. Mesmo depois, não devemos mudar a ação, mas sim adaptá-la à resposta do adversário.

Miguel Miranda – Qualquer ação defensiva do adversário é uma fragilidade que podemos explorar ofensivamente. Há que a identificar e dissecar por completo.

H: Qual é o teu maior pet peeve (implicância, algo que te irrita) enquanto treinador?

DA: Última posse de bola, a ganhar por 3, bola do adversário e não fazem falta.

H: Se tivesses de descrever a tua forma de treinar em 3 palavras, quais seriam?

DA: Confortável no caos.

H: Tendo vencido o campeonato da Proliga e alcançado a promoção para a Liga Betclic na próxima temporada, como foram as celebrações?

DA: Foram, acima de tudo, merecidas. Fez-se história no clube e na região. Estão todos de parabéns.

H: Por fim, quais são as expectativas para a primeira passagem pela AD Galomar na primeira divisão?

DA: “Prognósticos só no fim do jogo.”

Escrito por: Martim Andrade