Timeout com: Maria Carvalho

Estivemos à conversa com a mais recente Aggie

Hoopers (H): Como avalias a tua quarta temporada nos EUA? Tanto a nível pessoal como coletivo? Sentes que existe um tratamento diferente por não seres americana, numa equipa universitária tão nacional e num país que valoriza tanto o “jogador americano”?

Maria Carvalho (MC): A minha quarta temporada correu melhor que as temporadas anteriores. Evolui bastante, mas acho que tenho capacidades para fazer ainda melhor. Necessito apenas de um treinador com quem possa personalizar o meu treino para melhorar alguns detalhes. A minha passagem pela UVU (Utah Valley University), foi uma experiência incrível onde aprendi muito e evolui bastante, mas eu precisava de ter um treinador específico para bases como aconteceu no meu primeiro ano. Após a mudança de treinadores fiquei sem essa possibilidade e, por isso, quase toda a evolução que tive nas últimas três épocas foi muitas vezes à custa do meu próprio trabalho dentro e fora de campo.

Não me sinto diferente de ninguém, toda a gente me aceita e nem me vêem como uma jogadora internacional. Como já domino a língua como se fosse nativa, muitas vezes as pessoas ficam surpreendidas pelo facto de eu ser Portuguesa. Já lá vão muitos anos nos Estados Unidos e, neste momento, sinto-me totalmente incluída no plantel e no título de “jogadora americana”. Se me tivesses perguntado isso há quatro anos atrás a resposta seria bem diferente.

H: O que levas da Europa que te permite ver o jogo de forma diferente nos EUA? Sabemos que a velocidade, o 1×1 e a fisicalidade são os aspetos macro que caracterizam o basquetebol nos EUA. Posto isto, como olhas para as diferenças a nível do jogo jogado? Quais foram os aspetos que tiveste de focar mais no teu jogo para conseguir encaixar melhor nos EUA e ganhar o teu espaço?

MC: ​Quando estava em Portugal o meu basquetebol era muito diferente daquele que pratico agora. Era uma jogadora que me focava mais na defesa e em passar a bola. A ida para os EUA fez-me crescer como jogadora, ajudou-me a desenvolver outras “skills” que não tinha em Portugal. Aquilo que eu levei de Portugal e que mais me ajudou a vencer, foi o meu QI “basquetebolístico” e a minha capacidade de ler o jogo. Paralelamente, fui sempre a jogadora mais veloz de todos os plantéis por onde passei, portanto isso não foi um problema. Contudo, tive que desenvolver “skills” no 1×1 e trabalhar mais no ginásio para ficar mais forte fisicamente.

Os estilos de jogo já não são assim tão diferentes. Antes eu achava que o jogo em Portugal era mais pensado comparado com os EUA, mas hoje em dia acho que já não está assim. Talvez devido ao facto da nossa Liga contar com diversas jogadoras americanas ao longo dos últimos anos. Uma das coisas que me obrigou a ajustar foi aprender a lidar com a distância da família. Às vezes os dias são difíceis, falta sempre aquele carinho e proximidade com a nossa família, o que pode afetar uma jogadora que não esteja preparada psicologicamente para esta situação, mas em termos táticos e físicos não há muita diferença.

“Para mim o basquetebol é apenas 10% jogado. O resto é cabeça, dedicação e alma!”

H: Quais as equipas que tens seguido mais nos tempos livres ou até mesmo para complementares o teu jogo? Tens algum role model? Ou jogador que procures copiar? Algum ídolo?

MC: Os ​Phoenix Suns e os New York Knicks são as equipas que mais acompanho no (pouco) tempo livre que tenho. Isto porque os meus dois jogadores favoritos jogam nessas equipas. Chris Paul e Derrick Rose são os dois jogadores que mais influenciam a minha forma de jogar a nível individual, mas eu não acredito em copiar formas de jogar, contudo admito que me inspiro neles.

H: Tens acompanhado a Liga Betclic masculina e feminina?

MC: Por muito que gostasse de acompanhar, infelizmente não tenho tempo para isso. Vou lendo as notícias apenas.

H: No que diz respeito à seleção nacional, muitas das jogadoras que têm sido as principais protagonistas ultimamente acabam por atuar fora de Portugal (Josephine, Sofia da Silva, Lavínia, Koustorkova, Maria Correia, entre outras). Sentes que estamos numa fase de maior internacionalização do Basquetebol Feminino? E se “é o tal passo em frente” que nos falta?

MC: No setor feminino, julgo que estamos a evoluir muito bem. As jogadoras que atualmente representam a nossa seleção só trazem mais valor à equipa com as suas experiências internacionais. Quando tens talento e alguma sorte só tens mesmo de dar aquilo que aprendeste à nossa seleção.

H: Agora que és uma Aggie, quais são os planos para o futuro? Quão especial é para ti teres tido o Neemias e o Diogo a representar Utah State?

MC: ​Eu mudei de Universidade, porque já havia interesse anterior de ambas as partes. Apresentaram-me um projeto muito interessante com o objectivo de ganhar a Mountain West Conference e voltar a participar no NCAA Tournament. A Coach Kayla formou uma nova equipa, composta maioritariamente por jogadoras seniores muito ambiciosas e com o objetivo de vencer. Foi por essas razões que eu aceitei o desafio e optei pela mudança.
A USU tem outra projeção nos EUA e, por isso, irei ter, seguramente, muitos mais olhos em cima de mim. Relativamente ao Neemias, todos ficamos muito contentes pela oportunidade que teve para dar o salto para a NBA. Pena que não tenha terminado o seu curso. Jogar basket pelas universidades nos EUA, é isso mesmo, chegar o mais longe possível como basquetebolista, mas também agarrar a possibilidade de fazeres uma boa licenciatura na área que mais gostas. Julgo que o Diogo terminou a sua licenciatura e agora pode abraçar a carreira de basquetebol com mais tranquilidade relativamente ao futuro. Seja como for, para mim é sempre um orgulho ser mais uma a fazer parte da família portuguesa que passou por USU.

Escrito por: Martim Figueiredo