Timeout com: Rafael Lisboa

Estivemos à conversa com o base português

Rafael Lisboa, é um jovem base que fez parte da geração de ouro de 1999, que conquistou o Europeu sub-20 Divisão B e foi considerado MVP da competição. Formado no Sport Lisboa e Benfica, onde fez toda a sua formação, também se estreou pela equipa sénior.

No escalão sénior acabou por não conquistar nenhum título, mas deixou a promessa de um dia regressar para “encher o seu palmarés”. Na época passada atuou na Bélgica ao serviço do Spirou de Charleroi, registando 11.6 pontos (43.8% 2P, 35.5% 3P, 81.3% LL), 2.8 ressaltos, 5.7 assistências, 1.4 roubos de bola em 19 jogos, que ajudaram os belgas a fazer uma boa época do ponto de vista competitivo.

Aqui fica a conversa que tivemos durante neste timeout:

Hoopers (H):Como foi a adaptação à Bélgica e ao basquetebol praticado? Quais as principais diferenças para a nossa realidade, liga e clubes?

Rafael Lisboa (RL): A adaptação foi fácil, toda a equipa integrou-me muito bem, tanto colegas como treinadores. Eu cheguei tarde e não comecei a época de início e isso poderia ter dificultado a adaptação, o que não aconteceu.

Falando do país, o clima é mais frio e não estava habituada a sair de casa e estarem graus negativos e ver neve, por exemplo. Foi uma experiência incrível.

As diferenças que eu considero relativamente ao nosso basquetebol passam por um jogo mais rápido, atlético e que começa a ser jogado mais cedo no campo (mais posses de bola). Aproxima-se, principalmente, do basquetebol alemão e do francês. Procuramos jogar um basquetebol de transição, moderno e que promova o jogo energético e jovem.

A Liga Belga é muito competitiva, bastante uniforme e qualquer equipa pode vencer jogos e surpreender.

H: Como avalias a tua época de estreia? tanto a nível pessoal como coletivo?

RL: A minha época de estreia correspondeu ao que esperava e avalio-a de forma positiva. A oportunidade que me deram foi agarrada e estou a trabalhar para isso. Coletivamente estamos motivados para fazer mais e mais. Do ponto de vista pessoal, sinto que estou a crescer bastante também.

H: Qual foi o papel que o teu pai, Carlos Lisboa, teve na tua decisão?

RL: O meu pai tem sempre um papel importante na minha vida e no basquetebol não poderia ser diferente. Ele acompanha os jogos e está contente com a minha prestação. Inicialmente, não foi fácil, mas isso acaba por ser o normal.

H: Quais foram os aspetos em que tiveste de te focar mais no teu jogo para conseguir competir e ganhar o teu espaço? Sejam estes aspetos técnicos, táticos, físicos ou psicológicos.

RL: Falando dos aspetos, obviamente que qualquer jogador procura evoluir mais em todos os momentos do jogo. Procuro fazer sessões individuais, de vídeo, analisar os meus jogos, trabalhar fisicamente, etc.

Taticamente procuro retificar e crescer junto do treinador. Fisicamente passa por trabalhar mais, ainda por cima considerando que não sou um jogador alto, é importante apresentar-me forte.

Sair da zona de conforto e viver esta aventura garante-me uma evolução muito fiel à minha pessoa.

H: Sentes que existe um tratamento diferente por não seres belga, numa equipa tão nacional? Ou por outro lado, por seres estrangeiro, mas não seres um jogador americano?

RL: Sou um dos poucos estrangeiros da equipa e isso acarreta obviamente outra exigência que eu encaro como motivação para trabalhar ainda mais para corresponder.

H: Quais as equipas que tens seguido mais nos tempos livres ou até mesmo para complementares o teu jogo?

RL: Eu acompanho muito basquetebol: jogos da nossa Liga, o Benfica, o Neemias, a ACB, os meus irmãos (Tiago e Bernardo Lisboa), etc.

Gosto muito do basquetebol europeu e sempre que posso procuro ver. A NBA dá a horas que não me permitem acompanhar tanto (risos).

H: No que diz respeito à seleção nacional, os jogadores que ultimamente têm sido protagonistas atuam fora de Portugal (tu, o Diogo Brito, Sasa Borovnjak e até mesmo o Gonçalo Delgado). Sentes que estamos numa fase de maior internacionalização do nosso basquetebol? E se isso é o tal “passo em frente” que nos falta?

RL: Eu acho que um jogador que saia da zona de conforto e seja confrontado com a adversidade e novos desafios pode tornar-se melhor atleta. É o próximo passo para o nosso basquetebol.

H: Quão importante sentes que foi a vossa vitória no Europeu sub 20, ou a entrada do Neemias para a NBA, ou o trajeto do Rúben Prey em Espanha para aumentar o número de praticantes e novos adeptos na modalidade?

RL: A afirmação do basquetebol português no mundo só irá fomentar o aumento do número de fãs e de praticantes, bem como, motivar os mais jovens a dar mais e a perceber que é possível eles também chegarem longe.

H: Tens algum role model? ou jogador que procures copiar?

RL: Procuro acompanhar sempre os bases, por ser a posição que ocupo. Gosto muito do Facu Campazzo e via muitos jogos dele quando estava na Europa. Consegue superar bem o facto de ser baixo com outras coisas. O Calathes também é outra referência do meu jogo.

Escrito por: Martim Figueiredo