Orpheu, um estúdio português no coração da NBA

Entrevista ao estúdio Orpheu, responsável pelo LED Court do All-Star Weekend 2024.

Em Portugal o trabalho criativo convive com os seus próprios limites. Entre a falta de oportunidades e um mercado homogéneo, resta pouco espaço para comunicar o desporto de outra forma. Projetos como o Orpheu – pela sua própria existência – não só remam contra esta realidade, como oferecem horizontes mais largos a uma geração que acaba de entrar no mercado de trabalho. Criado há cerca de 6 meses, propõe-se a combinar “arte, tecnologia e imaginação”, de olhos postos num movimento futurista. O nome escolhido é uma referência clara a Fernando Pessoa e seus pares, que há um século atrás apressavam o futuro dentro de uma revista. Neste estúdio, o design gráfico é o grande estroboscópio, e os passos largos que todos exigimos, desejamos, extravasaram há muito os limites do papel.

Composto por 6 elementos, o Orpheu é um estúdio de design gráfico que desafia a geografia convencional. Se a equipa é inteiramente portuguesa – uma identidade bem vincada -, o mercado é internacional: “costumamos dizer que o inglês é a nossa língua de trabalho e que o português é a de lazer. E não o dizemos com qualquer tipo de sentimento pretensioso, simplesmente aconteceu assim”. Quem lemos é Pedro Vilas Boas, cofundador da Orpheu, ao lado de João Mestre.  Os seus caminhos cruzaram-se há alguns anos: “curiosamente, o Pedro foi a primeira pessoa a dar-me uma oportunidade fora de Portugal. Entretanto cada um seguiu o seu caminho e, passados cerca de 12 anos, voltámos a encontrar-nos num projeto.” Nesse momento, firmou-se uma parceria de tal forma constante, que começou a fazer sentido formalizá-la. 6 meses depois da sua fundação, o Orpheu foi responsável pela concepção gráfica de todos os elementos que compuseram o campo de LED’s do All-Star Weekend da NBA. É sob esse mote que iniciamos a nossa conversa.

“Foi em Lisboa [Pedro] que estabeleci o meu primeiro contacto com o basquetebol. Eu tinha um site com várias ilustrações, e a Nike entrou em contacto comigo para colaborar no lançamento de umas sapatilhas do Wade. Fui a Miami, fiz o photoshoot lá, e trabalhei com um fotógrafo bastante conhecido, o Carlos Serrao. Depois fui para Londres, e é aí que volto a ter contacto com a modalidade. Com a Nike, fiz parte da equipa que criou o primeiro campo inteiro com LED’s, em Shangai. Nesse projeto (Nike Rise), trabalhei com Lebron James, Kobe Bryant ou Paul George.”

Nike RISE - House of Mamba · WORKS · Rhizomatiks Design

A equipa do Orpheu foi contactada pela NBA a apenas 2 meses do All-Star Weekend. Se tivermos em consideração que o primeiro projeto, em solo asiático, levou 6 meses a ser desenvolvido, a proeza agiganta-se ainda mais: “fomos responsáveis por tudo o que se passou dentro de campo. Enviaram-nos vários mock-ups para cada um dos courts (Skills Challenge, Concurso Três Pontos, etc), com as cores das marcas que iriam patrocinar o evento. O grande desafio foi casar o nosso trabalho com o que estava a acontecer nos ecrãs e fundi-lo com os brandings dos patrocinadores. O court do Concurso de Três Pontos, por exemplo, não era o que refletia melhor a pele dos jogadores, mas era com isso que tínhamos de trabalhar. Desenvolvemos tudo, dos drills às reações dos LED’s”, partilha connosco João Mestre.

O coletivo português trabalhou à distância, mas integrado numa equipa multidisciplinar que, em Indianapolis, ia testando no piso as diferentes fases do projeto. “Trabalhámos com programadores (Glasscourt), com animadores (Dandelion + Burdock), e o campo de Shangai já tinha servido de aprendizagem. Em comparação com essa primeira experiência, o court do All-Star Weekend revelou-se melhor na dimensão funcional. De uma forma geral, os courts foram relativamente fáceis. As transições, por exemplo, já vinham incorporadas na identidade do ASW, desenvolvida pela NBA. O grande desafio talvez tenham sido os drills, que levaram mais rondas. Tínhamos desenhado uma grelha de píxeis que seguia o movimento dos jogadores, mas acabámos por ajustar para aquelas setas com a linha vermelha, que indicavam o sentido do movimento.”

 

“É muito importante trazer oportunidades deste género às novas gerações portuguesas, algo que dificilmente acontece por cá. Ainda somos um estúdio pequeno e, por isso, todas as nossas contratações são spot-on. Felizmente, contamos com uma equipa muito sólida, e até conseguimos entregar este projeto antes da data”.

Por cá, o design gráfico ganha uma nova referência com exposição internacional. Se a fandom que desenvolvemos em relação à NBA está irremediavelmente marcada por uma distância difícil de encurtar, projetos como o do Orpheu são um atalho para uma realidade perfeitamente ao nosso alcance.

 

EQUIPA ORPHEU

Pedro Vilas Boas

João Mestre

Liliana Rodrigues

Francisco Lacerda

Afonso Calixto

Escrito por: Francisco Silva