É dia de jogo no Estádio Marques da Silva, em Ovar. O futebol e o basquetebol da Ovarense são entidades diferentes, mas na mente dos adeptos a separação que se deu nos anos 90 não passa de uma mera formalidade. No bar, entre a enchente que veio ver a bola, saltam à vista três pessoas muito altas. Rodrigo Soeiro, Jonathan Silva e Francisco Miguel, jogadores da Ovarense Basquetebol, misturam-se com as gentes que os conhecem bem. Afinal, também estão em casa. Quando perguntamos ao Jonathan como tem sido a sua adaptação à cidade, responde-nos que “o pior é o frio, mas que agora até tem o futebol”.
E foi mesmo no relvado que tudo começou. “Venho de uma família de atletas. O meu avô, o Silva Batuta, chegou a jogar com o Pelé, e a minha mãe praticava basquetebol”. Jonathan cresceu no Rio de Janeiro e, tendo como referências o avô, o pai e o tio, saltou rapidamente para as escolinhas de futebol do Flamengo: “só queria saber do futebol, fosse na praia ou na rua”. Mas a pré-adolescência veio arrumar a casa e, por volta dos 11/12 anos, já era muito mais alto do que os colegas de equipa: “com essas idades os jogadores já estão mais avançados, e um dia o pai de um amigo meu viu-me jogar e disse: “esse menino é demasiado alto para jogar futebol, tem é de ir para o basquete”. Foi experimentar a quadra uma vez e não gostou nada. Só voltaria passados 2 anos, por pressão da irmã e do primo. Na formação do Flamengo, símbolo do seu coração, começou a apreciar mais a modalidade. Vestiria as cores do Mengão até aos 16 anos.
Por essa altura, a mãe vivia em França, e Jonathan veio à Europa no seu aniversário. Pelo meio, fez treinos em equipas como o Benfica, o Imortal ou o Queluz. Era mesmo para ter ficado por cá, mas era necessária uma transferência entre clubes ou, em alternativa, teria de parar de jogar durante alguns meses. Regressou ao Brasil, mas o destino já estava traçado. Na Pandemia, sem competição no Rio de Janeiro, decide mudar-se para Portugal e para o Imortal de Albufeira, clube em que já jogava um amigo seu, o José Carvalho.
“A adaptação ao Algarve foi tranquila, eles apoiaram-me muito. Com 17 anos, cheguei para o escalão sub18, mas por causa da pandemia estávamos todos a jogar numa equipa sub23, na CN2. Neste período o Bernardo Pires foi muito importante, ajudou-me a crescer, e o Luís Modesto também, que me deu a primeira oportunidade na liga.”
Depois de um período de três anos no Imortal, em que se vem afirmando como um jovem valor a atuar no basquetebol português, sentiu que precisava de um novo desafio. É assim que se dá a mudança para Ovar: “é , tinha de sair da minha zona de conforto. Foi uma decisão difícil porque vivia sozinho em Albufeira e aproximei-me muito de todos.”
Em Ovar, Jonathan tem sido uma aposta regular na equipa sénior, ainda que também compita pela formação B da Ovarense. “O objetivo essencialmente é aproveitar as oportunidades que me dão e crescer. Os treinadores dão-me muita liberdade. A nível coletivo, apesar de um arranque mais difícil, estamos muito focados e chegámos agora de três vitórias consecutivas. O nosso entrosamento está a fazer-se notar.”
No basquetebol nacional, Jonathan Silva é talvez o nome mais sonante de uma geração de atletas brasileiros que tem optado por seguir carreira em Portugal. “Uma vez, na pré-época, fomos jogar contra o CD Póvoa. Olhei para o lado deles e vi um rapaz contra quem joguei em sub14 no Brasil. Ele era do Minas. Tenho amigos que querem vir para cá jogar, percebem que é uma liga boa”.
Aos 20 anos, enquanto cumpre a sua quarta temporada no velho continente, foi já chamado à seleção nacional sub20 para integrar a comitiva que disputou o Campeonato da Europa – Divisão B. “O processo da dupla cidadania está a avançar e conto que esteja concluído muito em breve”.
Numa fase de afirmação, espera um dia poder do basquetebol, tal como vários membros da sua família viveram do desporto: “eles ajudaram-me sempre muito. Apesar de ser uma modalidade diferente, também foram atletas e sabem o que é que isso implica.”
Jonathan Silva continua a sua evolução em Ovar, enquanto o futebol da distrital lhe vai aquecendo o coração e matando as saudades de casa.