A adega do Alfredo Portista, bem no coração da cidade, é uma segunda casa para todos os adeptos do FC Porto. Mas, para Vítor Lucena, isto é muito mais do que um lugar comum: “está a ver estas cores? Sonho com elas todas as noites”.
Vítor foi secretário de direção do voleibol do FC Porto “no tempo do António Lopes”, vulgo década de 90. Talvez por isso, dedicou sempre uma atenção especial às modalidades dos dragões: “acompanhei muito o basquetebol no tempo do Tó Ferreira, do Júlio Matos, do Cromwell, o homem que marcou quase 50 pontos em Ovar”.
Depois de 15 anos em Moçambique, um grave problema de saúde obrigou-o a regressar a Portugal. Mas em Maputo havia um emblema que ajudava a matar as saudades de casa: “vivia perto do pavilhão do Malhangalene, clube que tem uma ligação ao FC Porto, e ia vê-los treinar, ia aos jogos. Acho que ainda se sentia a ligação porque eram as pessoas mais velhas que seguiam a equipa, tinham memória desse vínculo”.
Na década de 70, a guerra colonial intensificou-se e o regime português apostou no potencial de agregação do desporto. Clubes como o FC Porto, SL Benfica e Sporting CP criaram emblemas-satélite em Angola e em Moçambique. Além desta disseminação, o Estado Novo fundou também o Campeonato Metropolitano, que colocava frente a frente as melhores equipas portuguesas, angolas e moçambicanas. “A ligação ainda se nota no pavilhão, nos seus tons azuis, porque era uma infraestrutura muito frágil, sem obras há bastante tempo. Eu e dois amigos queríamos abrir uma casa do FC Porto em Maputo, mas entretanto fui dar aulas para Nampula e acabou por não acontecer. Entretanto vim cá em 2019 e levei imensas camisolas do FC Porto para lá, dessa loja aí ao lado”.
Neste momento, Vítor vive num albergue na Praça da República, no Porto, encontrando-se em situação de sem-abrigo. A frequentar formação durante o dia, o Alfredo Portista é uma família azul que faz as vezes do que vai faltando, ora ao almoço, ora ao jantar. “Costumamos meter os jogos aí a dar, ainda na semana passada. Gosto muito de dois jogadores deste ano, e do Max Landis, claro. O Fernando Sá é um homem da casa. Esteve em Guimarães e agora voltou, foi nosso jogador. Gosto muito dele”.
Os dragões vivem um excelente momento nas competições internas e europeias. Fora dos pavilhões, entre o azul e branco dos sonhos, a história de Vítor Lucena confunde-se com a do seu clube do coração. Que o futuro seja risonho, o seu e o “do seu FC Porto”.