Em Portugal apreciamos inícios e reagimos com entusiasmo a uma promessa. O caminho ainda é árduo, mas, com a entrada de Neemias Queta na NBA, conquistámos uma referência bem próxima, um exemplo que saiu dos nossos pavilhões, das nossas escolas. Há um horizonte a guiar-nos, e David Conceição faz questão de olhar em frente. Esta é, por isso, uma conversa sobre o futuro. Escrever sobre um atleta de 2011 – e que joga há apenas 4 anos – não podia resultar numa coisa diferente. Mas há pequenas batalhas que ficam sempre por contar, dores de crescimento que acabamos por esquecer quando já avistamos um palco maior. Assim, é preciso puxar a nossa atenção para o presente e acompanhar de perto uma luta que passa tantas vezes despercebida.
No dia em que conversámos, o David estava a descansar, depois de ter estado na AB Porto. Quando lhe perguntamos quantos dias livres tem por semana, responde-nos que “nenhum, ou só o domingo quando não tem jogos”. Na época passada, no seu ano de Mini 12, já jogava com a equipa Sub14 do Guifões, e este ano também já foi integrado no escalão Sub16. “Dois treinos, todos os dias. Não é fácil conciliar o basket e a escola, mas é fundamental que isso aconteça. Tento sempre estudar mal saio da escola, porque depois fico no pavilhão até tarde”.
“Os meus pais queriam que eu experimentasse um desporto coletivo. Em cima da mesa também estavam o voleibol e o andebol. Decidimos que ia experimentar o basquetebol uma época. Se gostasse, ficava. O meu pai foi jogador.”
Apesar da idade, a modalidade já lhe transmitiu valores fundamentais: “em Minis ganhávamos todos os jogos, com imensa vantagem, e um dia fomos a um torneio em Gondomar, com equipas de Lisboa, do Algarve. Foi um momento muito importante. Percebemos que havia muita gente que jogava bem e melhor do que nós.” O David não recuou perante um mundo maior, e este torneio é narrado com seriedade, como um momento de formação da sua personalidade. Quando damos um salto mais largo, emerge a mesma mentalidade: “com a ABP joguei contra equipas espanholas, e no meio delas sou só mais um jogador. Eu preciso desse desafio. Se vejo alguém melhor do que eu, quero ser melhor do que essa pessoa”. Sim, são as palavras de um atleta de 12 anos.
2023 encerrou com um vídeo viral nas redes sociais. O David fez uma aparição na reputada Overtime Europe, com dunks para todos os gostos. “Em Paços de Ferreira, com a ABP, estive bastante bem, e um treinador que lá estava disse-me que não conseguia perceber como é que ninguém tinha vindo falar comigo, fazer-me uma entrevista, umas perguntas. Por isso, ele enviou estes vídeos para a Overtime e foram mesmo publicados. Quando a convocatória saiu, eu já não jogava em Mini 12. As tabelas são mais baixas e, nos treinos, percebi que conseguia afundar. A reação foi incrível. Vários clubes interagiram com o meu perfil, e a Ticha Penicheiro até deixou lá um comentário. Ter sido reconhecido por tantas pessoas foi excelente.”
Para o David, o basquetebol vai-se agigantando, e as nossas fronteiras já não definem qualquer limite: “gostava de sair de Portugal assim que tiver uma oportunidade. Jogar em Espanha, por exemplo.” Apesar destes planos, o seu percurso pela modalidade não tem sido solitário, e vai-se construindo à base de uma amizade que ultrapassa a quadra: “tenho três colegas de equipa que me ajudam imenso. Nós os 4 (Luís Teixeira, Diogo Marques e Santiago) causamos imensos estragos, temos uma conexão incrível dentro de campo.”
“Quero levar isto para a vida. Sou muito esforçado, acho que mereço e vou trabalhar para isso”. Com apenas 12 anos, David Conceição é uma seta apontada ao futuro e às tabelas do distrito do Porto. O que se segue vai chegando a conta-gotas, entre amigos e pessoas que nunca esquecemos: “um abraço especial para o treinador Tiago, muito importante no meu percurso, e para a Dona Isabel, secretária do Pavilhão António Maia, que nos abre sempre a porta para fazermos treino extra. Sem ela, este compromisso também não seria possível”.